Doenças Psicossomáticas, uma linguagem
corporal
Por
Luise de Souza Cozzolino Soares
Inicialmente,
cabe falarmos um pouco, sobre o que é a doença e abordagem psicossomática.
A doença, qualquer que seja ela, vai estar “presa”
ao corpo. Este mesmo corpo que ao nascer, foi tratado (espera-se), com todo
carinho e atenção. Pensemos um pouco, que este alguém que se dedicou a nós
quando nascemos e também durante o nosso crescimento, nos deu carinho, afeição
e amor (na maioria das vezes, nossa mãe) deixou em nós marcas profundas e que
na certa, todos carregamos por toda a vida. Quando tais sentimentos, não foram
proporcionados pela mãe, certamente o foram por outra pessoa.
Toda criança desperta em nós bons sentimentos. Uma
criança possui uma força enorme, no sentido de mobilizar-nos emocionalmente;
isso para não irmos um pouco mais adiante e dizermos, lembrando que “a criança
é o pai do homem”.
Quando ficamos doentes, de certa maneira, voltamos
ou tendemos voltar à condição de crianças; numa linguagem mais técnica,
regredimos; ficamos mais “dengosos”, queremos atenção, consideração, cuidados,
etc. Com tudo isso, quer dizer que quando adoecemos “procuramos” nossa mãe.
Assim ,quando somos crianças, somos fortes,
conseguimos “seduzir adultos; temos um poder de persuasão
muito maior do que quando nos tornamos adultos. Aqui, quando adultos, a doença
pode, e às vezes assume as rédeas da sedução do outro. Quantas vezes, vemos
pessoas doentes, que se aproveitam dessas doenças para obterem pequenos favores
ou comodidades.
Quase sempre, “procuramos” as doenças das quais
somos portadores. Esse procurar, no entanto, não é claro nem explícito pois,
ele se mascara, escondendo-se atrás de sintomas, emoções e sentimentos.
Inúmeros são os sintomas que parecem ser de alguma
doença orgânica e que na realidade, correspondem a uma manifestação corporal de
depressão.
Conceitos e visões entrelaçam-se no conceito da
doença. A visão centrífuga durante muitos anos, deu conta de explicações que
tentavam justificar que o surgimento de uma doença é momentâneo e imediato e
que seus males se disseminam pelo corpo, cabendo, então, a extirpação imediata
da doença ou do órgão por ela afetado. Podem-se exemplificar inúmeras doenças;
entretanto, citaremos algumas: problemas cardíacos; gastrites e úlceras. Neste
tipo de visão de doença, uma gastrite tem seu início e eclosão no próprio
estômago ou órgãos desse sistema. Uma doença do coração, tem seu foco de início
no próprio órgão enquanto a úlcera tem como local de origem o estômago ou
duodeno.
A visão centrípeta sobre o conceito de doença,
procura não relacionar o órgão ou local onde a doença se mostra, como origem
necessária dessa doença. O local, órgão ou região onde surge a doença ou os
seus sintomas, se limitará apenas em ser o seu ponto de manifestação física. O
que isso significa ? Esta doença, ora manifestada num determinado órgão, está
sendo a expressão de situações ligadas a todo o contexto vivido pelo seu
portador. Estamos, sem dúvida, falando de contextos nos quais se ligam emoções,
sentimentos, afetos. Quando nos referimos o contexto vivido, ligado a emoções,
sentimentos e afetos o tempo passa a ter grande significado. Estamos dizendo
que esta determinada úlcera ou este problema cardíaco ou até mesmo uma
gastrite, pode ter se iniciado por sentimentos de alguma perda afetiva, raivas
reprimidas, enfim emoções que, no passado deixaram de ser expressadas de forma
natural, espontânea. Em tais exemplos, cabe lembrar, não se encontra em
questão, doença que apresentam a hereditariedade como causa.
Muitos médicos, atualmente, têm começado uma busca
nos sintomas das doenças, através do Homem, da pessoa como um todo. Contudo, a
Medicina, ainda mantém uma tendência a visualizar o doente, como algo passivo,
como alguém que está ali para ser paciente, portanto, é a condição daquele que
é portador de um mal, uma doença.
A pessoa doente ou com alguma sintomatologia, não
representa, na visão psicossomática, uma pessoa inerte; em outras palavras, ela
não é um doente, e, sim, uma pessoa que tem alguma doença. Isso é diferente.
Enquanto alguém tem uma doença, significa que também tem coisas nele, não
doentes, enquanto, se este alguém é doente, fica implícito que é toda doença.
Quanto a definição de psicossomática, é ao mesmo
tempo uma filosofia – porque envolve uma visão de ser humano, uma maneira de
definir o ser humano – é uma ciência que tem como objeto os mecanismos de
interação entre a dimensão mental e a dimensão corporal.
De certa forma a Psicossomática também é uma
prática clínica, cujo conjunto teórico muito se aproxima dos conteúdos das
disciplinas Psicologia Médica e Psicologia Hospitalar.
Passamos agora pelo doente, Mac Lean, considera que
os doentes psicossomáticos são incapazes de verbalização conveniente, pois suas
emoções não estão ligadas aos processos intelectuais, e, por esse motivo as
tensões se descarregam sobre o hipotálamo pelo sistema neurovegetativo,
provocando as psicossomatizações.
Nas biopatias, que segundo a Escola Européia de
Orgonomia, tem sua origem antes do nascimento. A emoção “medo” já está presente
no plano verbal, e quando não há nenhuma manifestação somática, a emoção fica
reprimida na consciência, mas presente no organismo. A evolução é imprevisível
e depende de fatores desencadeantes, como por exemplo, stress físico ou
emocional. Assim nas biopatias todo organismo está
implicado, a doença invade o corpo.
Estudos apontam para uma ligação entre o estado
mental e doença, com indícios convincentes de que o sistema imunológico poderia
ser um importante elo entre o cérebro e a saúde física.
Segundo Goleman. D, o
sistema imunológico é o meio através do qual o organismo se defende de doenças
infecciosas e do câncer. Tem duas tarefas primárias: distinguir entre células
“próprias” e células “não próprias” e, em seguida,
destruir, neutralizar ou eliminar substâncias estranhas identificadas como não
próprias, que naturalmente não fazem parte do organismo.
Inúmeras são as doenças que afligem o indivíduo,
desencadeadas ou não pelo seu emocional. After-me-ei em algumas, iniciando pelo CÂNCER.
Nos Estados Unidos, têm surgido há algum tempo, muitos questionamentos
que dão conta do Câncer enquanto doença cercada por questões
afetivo-emocionais. No organismo vivo, cada célula, ou melhor, cada grupo
celular específico, possui funções próprias, que são muito específicas, para
aquele tipo de função desempenhada por aquele órgão. Como é de se esperar,
todos os nossos sentimentos, afetos e emoções impregnam essas células. Senão,
vejamos: quando ficamos com raiva, nosso organismo fica pronto ou para “fugir”
ou para “lutar”, quando temos raiva, contraímos; nossos músculos ficam tensos,
enquanto quando sentimos alegria, tranqüilidade, ocorre um abrandar dessas
energias.
Existem Estudos que comprovam que pessoas mais
fechadas, mais tensas e chegadas ao isolamento, tendem mais a desenvolverem
quadros de tristezas, depressões e pessimismos. Seus corpos “sabem” o que as
emoções lhes pedem e respondem com “obediência” ,
dando como resposta, quem sabe, uma cefaléia (dor de cabeça), uma gastrite
(dor no estômago produzida por inflamação)
ou quem sabe, uma doença do coração.
Às vezes, o que o corpo executou, não foi
suficiente para redimir a pessoa da culpa, sobrevindo doenças mais graves,
talvez, como uma desordenada proliferação de células defeituosas. Aliás, já
foram comprovados em Estudos, que tais células sofrem um controle contínuo por
nosso Sistema de Defesa Imunológico, que tem como finalidade, impedir uma
produção desordenada de células anormais. Todos os componentes de nosso Sistema
de Defesa Imunológico, ao que parece, estão ligados às emoções e sentimentos.
Um câncer, não se formou naquele momento, ou dias
antes de ter sido detectado. Muitas vezes, ou na maioria das vezes, o seu
desenvolvimento e evolução tiveram início muitos meses ou anos atrás, momento
em que, “enviamos uma mensagem” para nosso Sistema Imunológico “ordenando” que
algo deveria ser feito naquele sentido. Falta de carinho, distanciamento de
afetos, ou quem sabe, raivas “incubadas” durante muitos anos, ocasionaram um
proliferar desordenado de células ou grupos celulares.
Em
se tratando de CORAÇÃO, a questão parece mais clara. Não há
quem deixe de perceber seu coração acelera diante determinadas situações
emocionais, bem como de atribuir alguma representação simbólica a ele,
investindo-o, pois, de um significado subjetivo. Não obstante, os caminhos e a
maneira através dos quais as emoções repercutem no coração.
Situações de ansiedade estimulam através do
hipotálamo – a liberação de catecolaminas e corticosteróides, seja por ação
direta do sistema simpático, seja por ação indireta sobre as supra-renais.
Algumas dessas substâncias repercutem sobre o aparelho cardiovascular –
elevação de freqüência cardíaca, da pressão arterial, vaso constrição
periférica e outras reações.
Fazem também referência ao aparecimento de
manifestações cardiovasculares desencadeadas por fatores emocionais; entre elas
a doença coronariana e a hipertensão arterial, que são as mais comuns do mundo
moderno.
E DOENÇAS DE PELE, acontecem ? A pele é um órgão
particularmente fascinante, e as doenças de pele possa se enquadrar entre as
biopatias do sistema nervoso, pois o sistema nervoso origina-se no ectoderma do
embrião.
Ela é ao mesmo tempo intimamente privada e
notavelmente pública, é a interface final entre o eu e o outro – o nosso mundo
interior e o mundo externo. Acaba sendo o portal através do qual sentimos o
mundo e pela quais nossas primeiras sensações aconteceram – o TOQUE – ao nascermos.
Como o maior órgão do nosso corpo (esticada, tem
cerca de 2 metros quadrados), a pele é a primeira linha de defesa contra o
ataque constante de micróbios, traumas físicos e elementos ambientais
irritantes.
Pode-se esperar que um órgão tão complexo, traduza
problemas emocionais em sintomas físicos ?
Os estudiosos tendem a afirmar que alguns problemas
são causados por estresse, conflitos concernentes a sentimentos e impulsos
hostis – agressivos, já que a hostilidade seria reprimida devido a sentimento
de culpa. Bem como, há situações em que o contato, a carícia forem
insuficientes, provocando uma erotização da pele.
As doenças dermatológicas consideradas biopatias
primárias e que tendem a ter forte componente emocional são: eczema
constitucional, psioríase, dermatite de herpes, alopecia (queda de cabelo em
certas zonas), línquem, liquitose (pele de peixe), causando em algumas situações
muito constrangimento à pessoa, desfavorecendo sua auto-imagem, até por ser uma
doença fisicamente visível.
Nesse momento não é somente primordial dissertarmos
as inúmeras doenças e suas causas, mas também termos consciência se
contribuímos para o desencadeamento delas, como ? estressados, insatisfeitos,
culpados ...Percebemos que o nosso organismo não está separado de nossas experiências e que aquilo que vivemos - nossos pensamentos, sentimentos, necessidades e crenças- tem uma
repercussão no funcionamento de nosso corpo.
A doença vem deflagrar algo a respeito de nós
mesmos e de nossas vidas
BIBLIOGRAFIA
Goleman, Daniel & Gurin, Joel,
Equilíbrio Mente e Corpo, Editora Campos, 1977, RJ
Lemgruber, V, Caderno de
Psicopatologia, Dep. De Psicologia, PUC, 1997, RJ
Graeff, G, F & Brandão, L. M,
Neurobiologia das Doenças Mentais
Keleman, S, Realidade Somática, Summus Editorial,
1994,